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Barro Preto, um bairro que vai da moda à “foda”

O Barro Preto é um dos bairros mais tradicionais de Belo Horizonte. Na região central, ele abriga o Fórum, o Exército, a sede do Cruzeiro e uma das maiores concentrações de lojas de roupa da capital. Além de abrigar o pólo da moda, o bairro tem, talvez, o metro quadro mais gay da cidade.




Durante o dia, o Barro Preto não é nada mais do que um bairro comum da região central. A fartura de lojas de roupas populares é notável, mas também é mais do que comum ver pessoas bem vestidas, trajando ternos e roupas de marca. Advogados, promotores e juízes podem ser vistos pelas ruas do bairro, que abriga o Fórum Lafayette e varas do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). À noite, no entanto, o bairro se transforma e exala sexualidade por todos os cantos.  Para fazer a matéria, decidi visitar cada pedaço do bairro e averiguar o quão verdadeiro são os boatos, confira:

Praça Raul Soares

Comecemos pelo ícone. Quem passa pela praça durante a noite verá vários grupos de jovens homossexuais reunidos por lá. Com roupas justas, eles se reúnem para os mais diversos fins: beber, dançar, conversar e, claro, paquerar. Não se surpreenda se, ao passar por lá, receber alguma cantada ou assobio. É mais do que comum. Casais também aproveitam o espaço para trocas de carinho e afeto. Embora a maioria dos casais vistos tenha sido de gays, há também héteros.

Se seu lance não for ficar na praça, há uma vasta oferta de ”points” por perto.

Utopia

No entorno da praça, o bar Utopia pode ser facilmente ignorado pelos mais desavisados. Exceto por uma placa informando o nome do estabelecimento, ele é simplesmente uma porta (aberta somente durante a madrugada).

G Word

Ao entrar para conhecer, jurava que se tratava de um cine-pornô gay. Imaginei que “G word” significasse “mundo gay”. Mas mesmo depois de pagar salgados R$ 25, não consegui identificar qual era o público do local.

Por este preço, o cliente pode ter acesso a um cinema pornô, a cabines privativas e a um ”dark room” – estes dois, confesso que não achei necessário conhecer. Filmes gays e héteros estão disponíveis para os clientes.

Edifício JK – Estação 2000

O edifício JK é um dos maiores conglomerados de moradores do Brasil. Lá, vivem cerca de 5 mil pessoas (o que representa mais gente do que em 220 cidade mineiras). Na galeria que fica embaixo do prédio, há desde lojas de manequins até o “Estação 2000”. O bar é direcionado ao público gay, sendo frequentado por homens mais maduros, na faixa dos 40 ou 50.

Saunas

Se o seu negócio são as saunas, ficará muito bem servido no Barro Preto. Atrás do JK funciona o “24horas”. Lá, você encontra um público variado e preço acessível. Embora em saunas seja comum encontrar garotos de programa (GPs), não vi nenhum durante o tempo que estive no local.

Se GPs for o que você procura, continue na Timbiras, no sentido Prado, e logo encontrará a sauna “Olympo”. Eu conversei com um dos donos do local e fiquei impressionado com a preocupação dele em manter a qualidade de atendimento e a higiene do local. Pagando entre R$ 40 e R$ 50, o frequentador pode desfrutar de um ambiente agradável e bonito.




Garotos dispostos a vender o próprio corpo são encontrados em profusão no local. Eu cheguei a conversar com um deles, que não quis se identificar. Segundo ele, ninguém desconfia de sua vida ‘secreta’. Com apenas 21 anos, seu maior desejo não é o dinheiro, mas a diversão. O público do lugar varia entre os 40 e 60 anos. Se quiser um programa, o preço é a partir de R$ 70.

Boate

Se estiver a fim de uma balada, e a Praça Raul Soares não for de seu agrado, siga pela Augusto de Lima em direção ao Prado. Ao final da avenida, vire na avenida Barbacena e encontrará a “Gis mais”. Uma boate voltada ao público gay jovem. Durante alguns dias da semana, é possível curtir a festa sem precisar pagar pela entrada. A boate está bem perto do metrô, o que pode facilitar o translado. Ao lado, uma delegacia, e a frente, uma loja maçônica.

Garotos de programa

A cereja do bolo. Dezenas de michês (como também são conhecidos os garotos de programa) trabalham no Barro Preto. Durante todos os dias da semana é possível encontrar esses profissionais do sexo dando expediente no local. As ruas logo atrás da sede do Cruzeiro e do Fórum Lafayette são as preferidas do garotos. A maioria não gosta de falar. Consegui, com muito custo, uma entrevista com um deles.

Razoavelmente bem aparentado, 28 anos e jeito de bad boy, Alisson – um nome usado apenas ‘profissionalmente’ – trabalha como atendente de telemarketing para a empresa de aviação Azul. Ele me mostrou quais são os pontos de maior movimento e como identificar o melhor cliente. Além disso, revelou um pouco de sua intimidade.

“Eu gosto de mulher, me considero hétero”, disse ele. Apesar disso, contou que gosta do trabalho e também sente prazer com os clientes. Contou que não vê problemas em atuar como ativo ou passivo. Segundo ele, a maioria dos seus clientes é ativo.




Ex-dançarino de casas noturnas, Alisson diz que não planeja ficar nessa vida” por muito tempo – seu sonho é cursar psicologia. Ele me contou que a profissão não tem nada de fácil, e que em todos os seus programas precisa consumir drogas. “Eu curto ficar com os clientes, mas na maioria das vezes preciso usar drogas”, contou. Quando perguntei, ele disse que usa constantemente cocaína e, para minha surpresa, afirmou que poderia me mostrar onde comprar. Recusei.

Quis saber se em algum momento ele havia passado por alguma situação difícil. Para minha surpresa, ele disse que foi entre ele e o próprio pai. “Uma vez meu pai quase me pegou conversando com um cliente. Eu estava escorado no carro do cliente um minuto antes do meu pai passar. Quando ele perguntou o que eu fazia ali, respondi que conversava com um amigo antigo. Ele não engoliu a história, mas ele sabe que conheço muitos podre dele, então não disse nada”, disse.

Como no mundo da prostituição feminina é regra geral não beijar os clientes, perguntei a Alisson se isso valia também nas relações homossexuais dos GPs e se ele beija seus clientes. “Beijo, sim, mas prefiro os que têm todos os dentes”, disse.

Depois desse papo, me despedi de Alisson e antes que eu sumisse da vista dele, um cliente já o tinha abordado. Quase me esqueci de perguntar a ele quanto era seu programa, mas consegui a informação. O preço inicial é de R$ 70, mas esse valor tem uma margem para desconto. Dependendo da negociação o programa poderia sair por até R$ 50, no carro ou no motel, o cliente escolhe.

Fhilipe Pelájjio

Publicitário, jornalista e pós-graduado em marketing, é editor do Moon BH e do Jornal Aqui de BH e Brasília. Já foi editor do Bhaz, tem passagem pela Itatiaia e parcerias com R7, Correio Braziliense e Estado de Minas.

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