A escola pública em Belo Horizonte virou motivo de paródia — ou de lamento. A greve dos professores, que já dura mais de trinta dias, escancara uma gestão municipal sem direção e uma rede de ensino abandonada à própria sorte. E não bastasse a ausência de aula, um terço dos estudantes ainda não recebeu os uniformes escolares. Resultado? Crianças fora da escola, famílias desamparadas e um prefeito que não governa — apenas posa para fotos.
A situação é tão grotesca que inspira uma versão atualizada da clássica canção infantil de Vinicius de Moraes e Sérgio Bittencourt:
“Era uma escola muito engraçada,
não tinha aula, não tinha nada.
Não tinha uniforme…”
Ironias à parte, o que vemos é uma tragédia social em curso, com milhares de crianças das periferias — aquelas que mais dependem da escola — largadas no vácuo da inércia do poder público.
Uma greve que virou rotina
É inegável que greves fazem parte do jogo democrático, mas quando elas passam a ser recorrentes e mal resolvidas, deixam de ser exceção e passam a revelar um vício estrutural. Não é a primeira vez que a rede municipal de ensino entra em greve por longos períodos — mas é uma das vezes em que a prefeitura demonstra menor capacidade de reação.
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A atual paralisação é fruto de um conflito prolongado entre a categoria e a administração municipal, que até agora se mostrou inábil para conduzir qualquer negociação de verdade. A Secretaria de Educação praticamente desapareceu do debate, e o prefeito Álvaro Damião parece mais interessado em cumprir uma agenda de popularidade do que enfrentar temas espinhosos como a valorização de professores ou a reformulação da estrutura pedagógica.
Enquanto isso, o ano letivo escorre pelo ralo.
A falácia da “prioridade na educação”
Todo político adora dizer que “educação é prioridade”. É o clichê mais repetido em campanhas eleitorais. Mas, na prática, poucos a tratam como tal. Prioridade se demonstra com ação, com orçamento bem aplicado, com diálogo aberto e — acima de tudo — com presença.
A gestão municipal atual não demonstra nenhuma dessas qualidades. Deixou os uniformes escolares atrasarem sem justificativa convincente, não estabeleceu um canal eficiente de comunicação com pais e professores, e falhou em liderar uma saída digna para a greve.
Quem paga o preço? As famílias da periferia, que não têm como bancar ensino particular e que contam com a escola pública como ferramenta de mobilidade social.
Conclusão: educação não pode ser piada
A escola pública de Belo Horizonte virou uma estrutura vazia. Literalmente. Sem professores, sem aula, sem uniforme. Uma escola “muito engraçada”, parafraseando a música, mas de uma graça trágica.
Não se trata apenas de uma falha administrativa — é uma falência de prioridades. Quando o poder público falha em garantir o básico para as crianças, especialmente as mais pobres, ele falha em sua missão mais fundamental: formar cidadãos, dar oportunidades, garantir o futuro.
A educação em Belo Horizonte virou anedota. E a prefeitura, cúmplice do riso nervoso de quem já perdeu a esperança.