“O tamanho do Atlético é inquestionável. O investimento é questionável.” A frase de Cuca após o empate com o Caracas pela Sul-Americana caiu como uma bomba nos bastidores do Galo. Em poucas palavras, o treinador expôs uma ferida que a diretoria atleticana tentava esconder: o descompasso entre a grandeza do clube e os recursos disponibilizados para o futebol.
Não é a primeira vez que Cuca deixa transparecer sua insatisfação com o elenco à disposição. Nas entrelinhas de suas entrevistas recentes, já era possível perceber que o treinador não estava plenamente satisfeito com as opções que tem no banco de reservas. Mas desta vez, a crítica foi direta e certeira, mirando justamente no ponto mais sensível para qualquer diretoria: o bolso.
O contexto da declaração torna tudo ainda mais explosivo. Após um empate frustrante contra um adversário teoricamente inferior, com um time repleto de reservas, Cuca optou por dividir a responsabilidade pelo resultado aquém do esperado. Não foi apenas uma crítica ao investimento, mas uma forma de proteger seu trabalho, sinalizando que não pode fazer milagres com o material humano disponível.
Leia também: Atlético precisa tomar decisão sobre futuro de Hulk
O mais curioso é que o Atlético não é exatamente um clube pobre. Pelo contrário, nos últimos anos, a SAF atleticana tem feito investimentos consideráveis em contratações. Hulk, Paulinho, Scarpa e Bernard não chegaram a custo zero.
O problema, na visão de Cuca, parece estar mais na distribuição desses recursos e na montagem de um elenco equilibrado, com opções de qualidade para todas as posições.
A reação do treinador após a declaração polêmica foi sintomática. Ao perceber o peso de suas palavras, tentou se esquivar de perguntas sobre o tema nas entrevistas seguintes. Tarde demais. A bomba já havia sido detonada, e os estilhaços certamente atingirão a relação entre comissão técnica e diretoria nos próximos dias.
Leia também: Dívida do Cruzeiro já quase supera do Atlético com Pedrinho
Para os jogadores que não são considerados titulares, a mensagem de Cuca foi devastadora. Ao questionar o investimento, indiretamente o treinador colocou em xeque a qualidade técnica de atletas como Rony, Cuello e Bernard, que tiveram a chance de mostrar serviço contra o Caracas e não corresponderam. A confiança desses jogadores, que já não era das maiores, tende a diminuir ainda mais após esse episódio.
A diretoria atleticana agora se vê em uma posição delicada. Rebater publicamente as críticas de Cuca seria admitir uma crise interna em plena temporada. Ignorar o assunto, por outro lado, pode passar a impressão de que o treinador tem carta branca para criticar a gestão sem consequências. O mais provável é que as conversas aconteçam a portas fechadas, com cobranças mútuas longe dos holofotes.
