Em Brasília, a política é feita com volume. Em Minas Gerais, ela é feita com silêncio, desconfiança e, acima de tudo, com uma leitura fria do oponente. Quem ignora isso, perde. E o vice-governador Mateus Simões, ao adotar um tom de superioridade professoral, parece ter esquecido a lição mais dolorosa da história recente do seu próprio grupo político.
O que fontes do núcleo duro do governo Zema me relatam é uma preocupação crescente. Simões, um quadro técnico e preparado, está viciando sua pré-campanha no veneno mais letal da política mineira: o “já ganhou”.
Ao tratar adversários do calibre de Rodrigo Pacheco (Presidente do Congresso) como uma nota de rodapé e Cleitinho Azevedo (um fenômeno de votos) como um acidente estatístico, Simões não projeta força. E se há algo que o eleitor mineiro sabe fazer é punir o salto alto.
A elite política de BH, com sua memória curta, talvez tenha esquecido. Mas a urna, não.
Precisamos falar sobre 2014. Aécio Neves. Quem estava nos bastidores daquela campanha do PSDB no segundo turno lembra do clima. Era um misto de euforia e distribuição de cargos. O tom era de vitória consumada. O resultado? Dilma Rousseff, mesmo desgastada, venceu. E o golpe mais simbólico foi a derrota de Aécio em Minas Gerais no segundo turno. O eleitorado mandou o recado: aqui, ninguém ganha de véspera.
Aécio perdeu para o “medo” do PT, sim, mas também perdeu para a própria arrogância, que desmobilizou aliados e ativou o voto “anti-triunfalismo”.
Se o exemplo nacional é muito distante, vamos para a capital. 2020. Mauro Tramonte. O fenômeno de popularidade televisiva liderou pesquisas por meses. A campanha, inebriada pelos números, agiu com uma inércia soberba, acreditando que a popularidade se converteria em votos automaticamente. Tramonte “derreteu” e sequer chegou ao segundo turno contra Kalil.
O eleitor de BH olhou para o favorito e disse: “Não tão rápido”.
A saga de Mateus Simões
Agora, voltamos a Mateus Simões. Ele tem a máquina, a caneta do governo e um padrinho forte (Zema). Essa é exatamente a combinação que exige humildade calculada, e não o oposto. Quando um candidato que já tem tudo age como se “merecesse” a vitória, ele ativa o instinto de rejeição do eleitorado.
A política mineira não é um debate técnico de Harvard; é um jogo de percepções. Ao desdenhar de Pacheco e Cleitinho, Simões comete dois erros estratégicos:
- Engrandece os Oponentes: Ao ironizar Cleitinho, ele dá ao senador o papel que Cleitinho mais ama: o de “Davi contra Golias”, o “povo contra a elite arrogante”.
- Irrita o Indeciso: O eleitor mineiro gosta de ser conquistado. Ele não gosta que lhe digam que a eleição é “óbvia”.
O que a campanha de Simões parece não entender é que, em Minas, humildade não é uma virtude moral; é uma ferramenta de poder. O “climinha de já ganhou” é o maior cabo eleitoral do adversário.
A continuar nessa toada, Simões corre o risco real de ser a terceira vítima dessa maldição. Ele pode ter o melhor plano de governo, mas se o eleitor sentir o cheiro de soberba, ele votará com o nariz tapado em qualquer um, menos no “dono da bola”. Aécio e Tramonte são os fantasmas que deveriam estar assombrando as reuniões de estratégia do vice-governador.























