A matemática da temporada 2025 expõe um dos maiores dilemas do Flamengo: Nicolás De la Cruz, o segundo reforço mais caro da história do clube, foi titular em apenas 36% das partidas. O investimento de R$ 102 milhões hoje se senta no banco, vítima de lesões crônicas no joelho e, principalmente, do sucesso de uma nova engrenagem no meio-campo.
A questão deixou de ser apenas técnica e virou uma pauta estratégica na Gávea. O que fazer com um ativo tão valioso que perdeu espaço para a eficiência de Jorginho e a intensidade de Saúl Ñíguez?
O diagnóstico da perda de protagonismo do uruguaio é duplo. Primeiro, o fator clínico, que minou sua sequência e explosão. Depois, e mais importante, o fator tático. A ascensão de Jorginho como o metrônomo da equipe, ditando o ritmo com passes precisos e controle posicional, e a chegada do box-to-box Saúl, que preenche o campo de uma área à outra, criaram uma dupla quase autossuficiente.
Filipe Luís encontrou um eixo que oferece equilíbrio, pegada e chegada. Nesse cenário, o futebol de condução e ruptura de De la Cruz, que exige a bola no pé para desequilibrar, ficou sem um encaixe natural, transformando-o na quarta opção de uma rotação concorrida.
De La Cruz vira preocupação para Filipe Luís

Isso coloca a diretoria e a comissão técnica em uma sinuca de bico. Ignorar um investimento dessa magnitude é financeiramente irresponsável. Por outro lado, forçar a entrada do uruguaio e quebrar a estrutura que hoje funciona seria uma imprudência tática.
A pressão é imensa, e a solução não passa por escolher entre um ou outro, mas por redesenhar o papel do camisa 18. Ele não pode mais ser o maratonista que se esperava, mas pode se tornar um especialista de momentos decisivos.
O plano de reativação passa por uma gestão de carga inteligente e uma função tática específica. Em vez de disputar a vaga com Saúl, De la Cruz pode ser a arma para quebrar defesas fechadas, atuando como um “mezzala” que flutua entrelinhas, aproveitando os espaços criados pela movimentação dos pontas.
Estratégia do Flamengo
Utilizá-lo em blocos de 60 minutos ou como um recurso de impacto no segundo tempo, quando o adversário já sente o cansaço, pode preservar sua condição física e potencializar sua qualidade no passe curto e na aceleração.
O Flamengo precisa transformar um problema aparente em uma vantagem estratégica. O desafio não é recuperar o De la Cruz que todos imaginaram, mas potencializar o De la Cruz que é possível ter hoje: mais cirúrgico, menos onipresente, mas ainda capaz de entregar o brilhantismo que custou R$ 102 milhões.