Em tempos de crise, a memória afetiva se torna um refúgio. E para a torcida do Atlético, frustrada com a recente queda de rendimento do time, o refúgio tem nome e sobrenome: Jorge Sampaoli. Nas redes sociais e nos arredores da Arena MRV, um coro ganha força e implora: “Sampaoli é a solução”. Mas essa volta seria a salvação para o Galo ou uma perigosa ilusão?
O clamor pelo retorno do técnico argentino, que comandou o time em 2020, é compreensível. Ele representa a memória de um futebol ofensivo, intenso e eletrizante, que, mesmo sem títulos de expressão nacional, deixou uma marca de protagonismo e empolgação.
O Doce Veneno da Nostalgia
A paixão que hoje embala o pedido pelo retorno de Sampaoli se ancora em uma lembrança idealizada. O torcedor recorda o time que pressionava sem parar, que não tinha medo de atacar e que devolveu ao Galo uma identidade vibrante. Naquele momento, Sampaoli e a Massa Atleticana pareciam feitos um para o outro.
As Cicatrizes que a Paixão Esquece
No entanto, uma análise mais fria revela as cicatrizes que a memória afetiva tende a apagar. A “era Sampaoli” também foi marcada por um altíssimo custo em contratações que nem sempre renderam, por um constante atrito com a diretoria e por um desgaste que culminou em uma saída traumática. O mesmo fogo que incendiava o time em campo, por vezes consumia o clube nos bastidores.
Análise: Nostalgia Não é Projeto
O grito da torcida por Sampaoli reflete uma frustração legítima com o presente, mas oferece uma solução que pode reviver os problemas do passado. Retomar o mesmo caminho sem ajustar as condições estruturais e financeiras seria um risco enorme.
A diretoria do Atlético precisa, sim, de uma reação, mas ela deve vir de um plano que equilibre ambição com sustentabilidade. A nostalgia é um sentimento poderoso, mas não pode ser um projeto de gestão. O Galo precisa de um futuro sólido, não apenas de um retorno a um passado eletrizante, mas instável.