Medo e perseguição contra gays: fomos ao Egito conferir a realidade do país

O país mais conhecido da África é também um dos mais comentados mundialmente quando se fala em repressão contra a comunidade LGBT. Apesar da homossexualidade não ser crime no país, hora ou outra lemos casos de homens condenados por, na prática, praticarem sexo com outros homens.


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Buscando descobrir um pouco mais sobre essa realidade nada amigável, viajei para a capital do Egito, Cairo, e durante 10 dias conversei com vários homens para tentar entender como é a vida deles.

Cairo

Recentemente ultrapassada por uma cidade nigeriana, a cidade do Cairo é a segunda maior de toda a África e possui cerca de 9,5 milhões de habitantes. Quase todos falam a variação egípcia do árabe e a grande maior parte segue a religião muçulmana.

Mesquita no Egito – Fhilipe Pelájjio – Moon BH

Assim como em todo mundo árabe, os homens são o centro da sociedade e são eles quem tomam as decisões em praticamente tudo. Como é de se esperar em uma sociedade assim, o machismo é predominante.

E justamente por causa deste machismo,ser gay não é coisa mas fácil do mundo. Notícias sobre prisões, testes anais e condenações por homossexualismo são constantemente publicadas em vários países, deixando, inclusive, diversos LGBTs com medo de visitar o país.


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Mas pra ser bem honesto com o que vi, a realidade parece estar bem longe do que é mostrado nos jornais pelo mundo.

O medo existe, mas não é o fim do mundo

Apesar do medo estar presente nos jovens gays do Egito, não é suficiente para que eles deixem de procurar parceiros. Virtualmente o meio mais comum são os aplicativos de pegação como Tinder e Grindr.

Pirâmides do Egito – Fhilipe Pelájjio – Moon BH

Como forma de precaução o Grindr excluiu a informação de distância entre os usuários. O medo era que policiais disfarçados pudessem se aproveitar da ferramenta para localizar rapazes e prendê-los.

Já os usuários, estão sempre desconfiados sobre quem possa ser a pessoa do outro lado. A estratégia parece sempre mais pedir do que dar informações ou fotografias. Achar algum que aceitasse ter uma conversa que seria publicada, então, foi quase impossível.

Conversando com quem entende

Um dos rapazes que aceitou conversar comigo foi Ahmed, de 21 anos. Trabalhando como social media, ele não enxerga no país essa situação de medo absoluto que vemos nos jornais. Para ele, hoje em dia os “gays são mais tolerados” e os não tão velhos já começam a aceitar.

Apesar disso, ele conta que ainda é raro ver jovens se assumindo para a família. Em compensação, ele diz que muitos de seus amigos sabem de sua condição. Sua primeira vez aconteceu, inclusive, com seu melhor amigo. (Pesquisas mostram que, de fato, muitos jovens egípcios tem suas primeiras relações com o melhor amigo).

Gizé, Egito – Fhilipe Pelájjio – Moon BH

Já para Mohamed de 23 anos e atualmente desempregado, “não dá pra entender o medo que se tenta aparentar ter”. Segundo ele, nunca foi nenhum grande mistério descobrir quem é gay. “Se a polícia realmente quisesse, poderia descobrir e prender muita gente, mas acho que eles deveriam se preocupar mais com o terrorismo”.

O mahismo ainda não superado

Mesmo nos gays, o machismo ainda parece estar bem vivo. Cerca de 95% dos rapazes que aceitaram conversar comigo se declararam ativos e a maioria parecia ficar envergonhada quando perguntei se já havia experimentado ser passivos.


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Pelo que percebi, muitos associavam a prática a um “comportamento feminino”. É como se de um jeito ou de outro todos ainda precisassem se colocar como o macho da relação.

Ruim pra eles, pior pra elas

Infelizmente não consegui conversar com nenhuma lésbica egípcia. Mas pelo que observei, a situação é certamente centenas de vezes pior. É que mesmo uma mulher sendo heterossexual, ela só vai transar alguma vez na vida caso um homem ou sua família a designem para casar.

Cairo, Egito – Fhilipe Pelájjio – Moon BH

Um balanço

Sem dúvidas alguma, um gay no Egito tem uma vida muito mais difícil do quem um gay na Europa ou aqui na América. Apesar disso a situação felizmente não parece estar tão crítica quando nas manchetes que vemos.

Vale ressaltar também que minha experiência se resumiu a conversar com rapazes do Cairo e os que há muito tempo vivem na cidade. Portanto é possível que em cidades menores a situação seja consideravelmente pior.

Entretanto, pela avaliação dos próprios egípcios, a situação tem melhorado e tende a melhorar ainda mais. Assim esperamos.

Fhilipe Pelájjio

Publicitário, jornalista e pós-graduado em marketing, é editor do Moon BH e do Jornal Aqui de BH e Brasília. Já foi editor do Bhaz, tem passagem pela Itatiaia e parcerias com R7, Correio Braziliense e Estado de Minas.

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Fhilipe Pelájjio

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