O movimento estratégico do senador Cleitinho Azevedo, que consiste em modular a crítica à família Bolsonaro enquanto ensaia um canal de diálogo funcional com o governo Lula, não deve ser lido como sofisticação, mas como uma deriva tática de alto risco. O senador, eleito no auge da onda anti-PT e bolsonarista, parece estar sacrificando sua coerência ideológica em busca de uma relevância institucional que pode lhe custar a própria base.
A defesa da “oposição inteligente” é, neste contexto, a nova roupagem para o oportunismo.
Cleitinho ascendeu ao Senado com a chancela direta de Jair Bolsonaro, garantindo um mandato ancorado na insatisfação e na polarização. O voto que o elegeu era claro: oposição radical ao PT e ao sistema. Qualquer diálogo com o Planalto, por mais que se revista do eufemismo “funcional”, será lido pela militância que o carregou como traição ao mandato original.
A Perda do Ativo Primário: A Raiz Anti-Sistema
O capital político de Cleitinho reside na autenticidade de sua postura anti-sistema. Ao buscar uma “relação saudável” com o governo Lula e ao celebrar a convergência em pautas pontuais (como a restrição de uso do Bolsa Família), o senador dilui sua principal moeda de troca. Ele troca o valor inegociável da oposição anti-PT pela moeda corrente das benesses ministeriais.
O episódio da reprimenda pública de Eduardo Bolsonaro — e a consequente necessidade de Cleitinho de implorar por “perdão” em plenário — não foi um racha; foi uma prova de limite. A militância digital demonstrou que o poder de veto do clã Bolsonaro sobre a base é absoluto.
Ao insistir no diálogo com Lula, Cleitinho torna sua retratação a Bolsonaro uma farsa tática. Ele expõe que sua lealdade é condicional e que a “gratidão” expressa no Senado era apenas uma peça de teatro para conter a crise e proteger a base de votos, e não uma convicção.
O Risco do Limbo Político para Cleitinho
A busca por uma “direita dialógica” é, no atual cenário brasileiro, a rota mais rápida para a irrelevância. Cleitinho se arrisca a se posicionar em uma “terra de ninguém”:
- A Base Conservadora: O verá como “quase governista” e “oportunista”, transferindo sua fidelidade para nomes mais puros (como Eduardo ou Michelle).
- A Esquerda: Não o abraçará. O PT e seus aliados o enxergam como um senador conservador de pautas morais duras. Qualquer diálogo é lido como um movimento tático e descartável do Executivo, sem gerar confiança eleitoral para Cleitinho.
O senador está a caminho de anular sua identidade política. Ele está trocando a segurança de uma base fiel, ainda que tutelada, pela incerteza de um centro pragmático que não existe para ele.
A “oposição inteligente” é um discurso bonito para o eleitorado médio, mas é um suicídio programático para quem foi eleito na trincheira. O custo de oportunidade dessa aproximação é a perda do capital mais valioso que Cleitinho possui: a confiança inquestionável de sua base bolsonarista.























