Aécio Neves: Por que o Senado é o ‘Plano A’ do PSDB em MG e o Governo é vaidade

Foto: Dida Sampaio/Estadão

No xadrez político, os movimentos são lidos nas entrelinhas, não apenas nos discursos públicos. E o movimento mais recente de Aécio Neves (PSDB) é um manual de pragmatismo. Enquanto o debate público se concentra na sua competitividade em pesquisas para o Senado, o que fontes do tucanato nacional me confirmam é que a escolha de Aécio já está 90% tomada.

A disputa não é entre o Senado e o Governo de Minas. A disputa é entre a sobrevivência do PSDB e o projeto de legado de Aécio. E a sobrevivência vai ganhar.

Os números da Paraná Pesquisas, que o colocam na liderança para o Senado (27,6%), não são uma “novidade” para a campanha; são a “confirmação” de uma tese. Aécio e seu núcleo sabem que esta é a rota mais racional.

Para entender a jogada, é preciso dissociar o político do administrador. Aécio sabe que seu maior ativo hoje é o recall (lembrança de nome) e seu maior passivo é a rejeição (detectada pela AtlasIntel). A eleição para o Senado em 2026, com duas vagas em disputa, é o cenário perfeito para maximizar o ativo e diluir o passivo. Numa disputa pulverizada, com dois votos por eleitor, a rejeição dói menos. O recall fala mais alto.

Agora, compare isso com a disputa pelo Palácio da Liberdade. Seria um “all-in” de altíssimo risco. A eleição para o governo é plebiscitária, personalista. Num eventual segundo turno, a rejeição se aglutina e vira um teto intransponível. Aécio teria que lutar contra o herdeiro de Zema (que tem aprovação sólida) e a nova direita (Cleitinho).

O que o establishment político já entendeu – e o público ainda não – é que o “Projeto Aécio 2026” é indissociável do “Projeto de Retomada do PSDB Nacional”.

Foto: reprodução Veja

Aécio não se move para retomar a presidência do partido por acaso. O PSDB, hoje nanico, precisa desesperadamente de bancada federal para ter relevância, fundo partidário e tempo de TV. Aécio, eleito senador por Minas, torna-se um ativo estratégico em Brasília. Ele vira o general da reconstrução, com gabinete, microfone na tribuna e poder de articulação.

Um Aécio candidato ao governo, por outro lado, é um risco que o partido não pode pagar. Se ele perde (um cenário de alta probabilidade), ele não apenas se anula politicamente, como drena recursos preciosos do partido em uma aposta de vaidade.

Fontes do PSDB paulista são frias na análise: “O partido precisa de um Aécio senador em Brasília, não de um Aécio mártir em Minas.”

Portanto, o cálculo é frio. O Senado não é o “prêmio de consolação”; é o verdadeiro centro do poder no projeto de reconstrução tucano. É a rota que maximiza a probabilidade de vitória com o menor custo político, garantindo o retorno de Aécio ao tabuleiro principal da República.

O governo de Minas? Esse é o plano da emoção, do legado, da reabilitação plena. Mas, em política, quem joga pela emoção quase sempre perde para quem joga pela matemática. E Aécio é, acima de tudo, um matemático do poder.

The Politica
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