Um inquérito da Polícia Federal (PF) coloca em xeque a regularidade da candidatura do vereador de Belo Horizonte, Lucas Ganem (Podemos). A investigação, aberta no início de outubro, concluiu que o parlamentar nunca residiu no endereço que informou à Justiça Eleitoral ao se registrar como candidato nas eleições de 2024.
O relatório da PF já foi encaminhado ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) e adiciona combustível a uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) que já tramita contra o vereador.
As Evidências Apuradas pela Polícia Federal
A investigação da PF foi minuciosa e reuniu uma série de indícios que contrariam a declaração de Ganem.
O Endereço Declarado: Ao se candidatar, o vereador informou residir na Rua Toronto, bairro Trevo. No entanto, ao diligenciar no local, a PF ouviu a moradora, que afirmou desconhecer o político e residir no imóvel com o marido há mais de 10 anos. Curiosamente, o marido da moradora é um empresário ligado ao grupo político de Ganem.
Contas de Energia (Cemig): A PF levantou que a primeira conta de luz em nome de Ganem em Belo Horizonte só foi registrada em novembro de 2024 (após a eleição), em um endereço completamente diferente, no bairro Jardim Guanabara. Uma nova ligação em seu nome surgiu em fevereiro de 2025, no bairro Nova Granada – novamente, distinto do declarado à Justiça Eleitoral.
Outros Indícios: A investigação também apontou que Ganem renovou sua CNH em São Paulo em 2024 (ano da eleição e da transferência de seu título para BH) e solicitou ao TRE-MG o endereço de IP utilizado para o envio do registro de candidatura online, buscando mais provas sobre a localização real do então candidato.
A Defesa de Lucas Ganem

Em nota, Lucas Ganem afirmou desconhecer o inquérito da PF. Ele alega que, desde novembro de 2024, já não residia no endereço da Rua Toronto e que a questão de seu domicílio eleitoral já foi “devidamente esclarecida” na AIME movida contra ele pelo suplente Rubão (Podemos).
O foco do inquérito da PF não é discutir esses “vínculos”, mas sim a veracidade da informação prestada no documento oficial de registro de candidatura. A suspeita é de falsidade ideológica eleitoral (Art. 350 do Código Eleitoral), crime que prevê pena de reclusão e multa, além das consequências na esfera eleitoral.
Os Riscos para o Mandato
O relatório da PF agora subsidia a AIME que já tramita na 29ª Zona Eleitoral. Caso a Justiça Eleitoral entenda que houve fraude comprovada na declaração de domicílio para viabilizar a candidatura, o mandato de Lucas Ganem pode ser cassado. Nesse cenário, a vaga seria, em regra, ocupada pelo suplente do mesmo partido, Rubão.
Análise: O Ônus da Prova e os Próximos Passos
O inquérito da PF apresenta indícios objetivos (contas de luz, depoimento da moradora, CNH) que colocam um pesado ônus da prova sobre a defesa de Lucas Ganem. A alegação de que “mudou de endereço” após a eleição não anula a suspeita sobre a veracidade da informação prestada durante o registro.
A Justiça Eleitoral agora analisará as provas e os argumentos de ambas as partes. A decisão final sobre a AIME e eventuais desdobramentos criminais ainda levará tempo, mas o relatório da PF adiciona um elemento de alta gravidade ao caso, colocando em risco a permanência do vereador na Câmara Municipal de Belo Horizonte.























