A cara da contradição: no Dia da Independência do Brasil, bolsonaristas fincam uma bandeira gigante dos Estados Unidos na Avenida Paulista. O gesto, por si só, fala mais do que mil slogans. É a síntese visual do que a esquerda vem alertando há anos — e avaliza seus argumentos com clareza.
Era o presente perfeito que o presidente Lula precisava para continuar com seu discurso de defesa da soberania nacional antes à direita, que em seu discurso, se curva aos Estados Unidos.
O episódio
No último 7 de Setembro, manifestantes bolsonaristas levaram uma enorme bandeira americana à Avenida Paulista, rompendo simbolicamente a soberania nacional num momento solene. O gesto, longe de ser isolado, foi saudado por Eduardo Bolsonaro como “protesto pela liberdade”, “agradecimento a Trump” e reação ao ministro Alexandre de Moraes.
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Líderes do governo e parlamentares reagiram com indignação. Para o ministro Rui Costa, o episódio “deixa claro de que lado cada um de nós está”: “não há registro na história de políticos que, num 7 de Setembro, erguem bandeira de outro país, ainda que este país tenha prejudicado o Brasil com sanções comerciais”, reforçou. O deputado Paulo Pimenta chamou o ato de “submissão, não patriotismo”. O deputado José Guimarães classificou o ato como “vergonha internacional”.
A bandeira estrangeira como argumento perfeito da esquerda
Prefiro chamar o episódio de coerência por excesso — exatamente o que alimenta o discurso da esquerda sobre soberania nacional. Se manifestar patriotismo significa defender a autodeterminação brasileira, então a exibição da bandeira dos EUA num ato de 7 de Setembro é um convite irrecusável para reforçar essa narrativa.
E não é só simbólico: os atos americanos traziam cartazes em inglês, além de figuras como Tio Sam e referências explícitas a Trump, enquanto o Brasil negociava tarifas punitivas contra si próprio. Numa data em que se celebra o nascimento da república, o protagonista deveria ser o verde e amarelo — não a bandeira de uma potência estrangeira com interesses comerciais hostis ao nosso país.
Quando o “empréstimo simbólico” vira autoagressão política
A presença desse símbolo externo em um protesto político interno não é neutra. Ao contrário, é a personificação de um entreguismo que se alimenta do discurso de liberdade e combate ao “establishment”. Se hoje este ato esgarça a realidade, para a esquerda torna-se um argumento elegante, inevitável e eficaz — não precisa ser rebuscado, está exposto ali, em letras garrafais.
A bandeira não foi um “meme”, como tentou minimizar o pastor Silas Malafaia — que chegou a insinuar, controversamente, que agitadores de esquerda seriam os responsáveis por colocá-la ali. Foi uma declaração política: nem todos se movem pela lógica da nação. Alguns a trocam por narrativas, alinhamentos e influências externas, ainda que disfarçadas de patriotismo.
Conclusão
O melhor presente que a direita entregou à esquerda este 7 de Setembro foi essa bandeira. Não precisava de slogan — precisava sim, de coerência e respeito à ideia de soberania nacional. Quanto mais repetem esse tipo de gesto, mais fortalecem o argumento de que patriotismo autêntico exige autonomia, defesa de interesses nacionais e rejeição de paternalismos externos, ainda que disfarçados de ícones políticos.























