O anúncio da data de estreia do SBT News, 15 de dezembro, é apenas a ponta do iceberg. O que realmente importa, e o que o mercado e o poder em Brasília estão decifrando, é a arquitetura de comando deste novo player. O Grupo Silvio Santos não está apenas lançando um canal de notícias; está fazendo uma repactuação de sua relevância política e jornalística.
Fontes do alto escalão do grupo confirmam o que os movimentos já indicavam: esta é a virada mais drástica e calculada da casa em décadas, um projeto das acionistas para reposicionar o SBT na era pós-Silvio. E a escolha da dupla de comando é a prova cabal disso.
De um lado, Fabio Faria. Do outro, Camila Mattoso. É um eixo que, à primeira vista, parece contraditório. Mas, na lógica do poder, é perfeitamente complementar.
Fabio Faria, ex-ministro das Comunicações, não é um jornalista e não foi contratado para sê-lo. Faria é o ativo político. Ele é o homem que garante que o SBT News nasça com trânsito livre nos três poderes. Sua função não é operacional de redação; é estratégica. É ele quem vai abrir as portas dos gabinetes que hoje estão fechadas para o jornalismo do SBT ou abertas demais para concorrentes.
A presença de Faria é um sinal direto ao Planalto, ao Congresso e ao STF de que o canal “falará a língua” de Brasília e disputará as grandes entrevistas e os furos de bastidores.
Se Faria é o acesso ao poder, Camila Mattoso é o ativo de credibilidade.
A contratação da diretora da sucursal da Folha em Brasília é o movimento mais inteligente do grupo. Mattoso não é uma figura de TV; ela é uma jornalista de texto, de apuração, de investigação (com lastro na Abraji) e de gestão de equipes de hard news na capital.
Ela é o “selo de qualidade” que o SBT precisa para se dissociar da imagem de jornalismo “popular” ou “chapa-branca”. Mattoso é a fiadora, para o mercado publicitário e para o público qualificado, de que o SBT News não será uma Jovem Pan 2.0 nem um braço do antigo governo. Ela é a promessa de “imparcialidade” e “relevância” citada nos comunicados.
O que o SBT está construindo é um modelo híbrido e agressivo.
Enquanto a GloboNews sofre com a perda de monopólio e a CNN patina, o SBT News nasce com a capilaridade de Faria em Brasília e a credibilidade de Mattoso na redação.
O verdadeiro jogo não é apenas a TV paga. É a distribuição multiplataforma — especialmente os canais FAST (TVs conectadas) e o YouTube —, onde a concorrência ainda está se organizando.
A grande questão, que fontes de ambos os lados observam com cautela, é como esse eixo Faria-Mattoso operará na prática. O jornalismo de apuração (Mattoso) inevitavelmente colidirá com os interesses políticos que Faria precisa gerenciar.
O sucesso do SBT News dependerá de quem, no dia a dia, terá a palavra final: a estratégia de acesso ou a independência da apuração. Mas o recado está dado: o SBT decidiu parar de ser coadjuvante e entrou no jogo principal.























