A despedida de Danilo Girundi da Globo Minas, após uma década e mais de 7.500 reportagens, é um sintoma claro dos novos tempos no jornalismo. Não se trata apenas da migração de um talento para o “outro lado do balcão”; trata-se de um choque de timing e ambição. O jornalista tinha um sonho claro: cobrir a COP30, o maior evento climático do mundo, que acontece no próximo mês em Belém.
A resposta que ele teria ouvido, de que “era preciso pavimentar o caminho”, é a síntese do modelo de carreira tradicional das grandes emissoras. Girundi, aparentemente, escolheu não esperar.
Esse movimento é uma radiografia do mercado. O jornalismo de redação, especialmente o televisivo, perdeu o monopólio da relevância. A comunicação corporativa, antes vista como um “plano B” de carreira, hoje compete de igual para igual, oferecendo rotinas mais previsíveis, remuneração competitiva e, crucialmente, projetos estratégicos de longo prazo.
O caso de Girundi é emblemático: ele não está deixando a comunicação, está mudando o crachá para se aproximar do epicentro de um tema que o fascina.
Ex-Globo Minas, Girundi troca a TV por uma empresa de energia

O paradoxo é evidente: ao deixar a emissora que lhe daria a vitrine da cobertura jornalística da COP30, ele se junta a uma empresa do setor de energia (TSEA), um dos protagonistas centrais das discussões que ocorrerão em Belém.
Ele trocou a cadeira de observador pela de participante. Em vez de perguntar, ele agora ajudará a formular as respostas. A frustração de não realizar o sonho imediato na TV o levou, ironicamente, para muito mais perto do núcleo do debate climático.
Para a Globo Minas, é a perda de um repórter experiente, de rua, com alta capacidade de produção. Para o mercado de Belo Horizonte, é a confirmação de que os setores de infraestrutura e energia estão absorvendo profissionais de narrativa de alto nível para gerir sua reputação em uma era de escrutínio ambiental.
A decisão de Girundi é a história de uma geração que não quer mais “pavimentar o caminho” por anos a fio. Ele escolheu construir sua própria ponte. A COP30 de 2025 acontecerá com ele presente, muito provavelmente, mas com um crachá diferente, provando que, no fim, o sonho não foi adiado, apenas o método de execução foi alterado.























