A diretoria do Sport encontrou uma forma de garantir uma receita recorde de R$ 3 milhões com o jogo contra o Flamengo, mas a que custo? Ao ceder a operação da partida para uma empresa e, no processo, mais que dobrar a carga de ingressos para a torcida visitante, o clube abriu um debate sensível no futebol brasileiro: até que ponto vale a pena trocar a força da arquibancada por um cheque garantido?
Embora o clube negue veementemente a “venda de mando”, para parte de sua torcida, a decisão tem exatamente esse sabor.
‘Cessão’ ou Venda de Mando na Prática?
Oficialmente, o que o Sport fez não é uma venda de mando, pois a partida será realizada em Pernambuco. O clube chama a operação de “cessão de operação”: uma empresa paga um valor fixo e assume a responsabilidade (e o lucro) da bilheteria.
O ponto da polêmica, no entanto, está na principal condição do acordo: a destinação de 9.601 ingressos (21,1% da capacidade da Arena) para a torcida do Flamengo. O regulamento da CBF prevê um mínimo de 10% para os visitantes. Ao dobrar essa cota, o Sport, na prática, dilui sua principal vantagem como mandante: a pressão de um estádio majoritariamente rubro-negro.
A Lógica Financeira: Por que o Sport Aceitou?
A decisão da diretoria é puramente pragmática. Os R$ 3 milhões, recebidos de forma líquida e antecipada, representam a maior arrecadação da história de um clube pernambucano em uma única partida. O valor supera, com folga e sem riscos, o que o Sport conseguiria arrecadar mesmo com a casa cheia.
Para um clube com um orçamento limitado em comparação aos gigantes do eixo Rio-SP, a proposta é financeiramente irrecusável.
Uma análise: Jogo contra o Flamengo é lucrativo
Juridicamente, o Sport está resguardado. O mando de campo foi mantido em seu estado. Na prática, porém, a diretoria fez uma escolha que privilegia o caixa em detrimento da cultura da arquibancada. A decisão de transformar uma parte significativa de seu “inferno” particular em um setor visitante ampliado é um sintoma do abismo financeiro do futebol brasileiro.
O clube maximizou sua receita, mas o preço pago foi a insatisfação de parte de sua torcida, que entende que, em um jogo contra o Flamengo, a maior força do time deveria ser o 12º jogador — e não o saldo bancário.