A volta de Allan para o Atlético faz todo o sentido na prancheta de Jorge Sampaoli. Faz sentido na planilha do Flamengo, que admite negociar o atleta. Mas o maior obstáculo para que a operação avance não está no campo ou no caixa, e sim na memória da arquibancada. O “sim” da torcida do Galo é, hoje, a variável mais complexa e importante dessa equação.
Nesta terça-feira, 30, o assunto voltou a aparecer na Gávea, onde o nome do jogador constantemente é tido como uma decepção ante ao que se esperava dele na contratação.
A Lógica do Campo: Por que Sampaoli Quer?
Taticamente, o interesse é óbvio. Allan é o protótipo do volante que Sampaoli adora: intenso na marcação, com passe vertical rápido para quebrar linhas e capacidade de sustentar a pressão pós-perda. Com um histórico recente de lesões na coxa, a dúvida é física, não técnica. Se estiver 100%, ele é o “camisa 6” ideal para o modelo de jogo que o técnico argentino quer implementar em 2026.
O X da Questão: A Rejeição da Arquibancada
Este é o verdadeiro freio. A saída de Allan para o Flamengo em 2023 foi traumática para parte da torcida, que viu a transferência para um rival direto como uma traição. Faixas de protesto na época e a memória ainda fresca criam um ambiente de alta rejeição. Contratar um jogador que já chega sob vaias é um risco político que a diretoria precisa calcular. A pressão sobre ele seria imediata e a paciência, mínima.
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Análise: Qual Seria o Negócio Viável para o Flamengo?

Considerando a resistência da torcida e o histórico de lesões, uma compra definitiva e cara é o cenário menos provável (20% de chance). O Flamengo, por sua vez, não vai “rasgar dinheiro” em um ativo que custou R$ 43 milhões. Ainda mais por que hoje ele está avaliado em cerca de 4 milhões de Euros, o que representaria um prejuízo de R$ 10 milhões na venda, pelos 70% comprados.
O caminho mais crível, com cerca de 35% de probabilidade, seria um empréstimo com opção de compra atrelada a metas de desempenho. Este modelo agrada a todos:
- Para o Atlético: Reduz o risco financeiro e serve como um “teste” de aceitação da torcida.
- Para o Flamengo: Mantém o valor do ativo e pode garantir uma venda futura se ele performar bem.
O Checklist para a Paz
Para que a operação dê certo, o futebol precisa vir acompanhado de uma estratégia de comunicação cirúrgica. O sucesso passa por:
- Plano Médico Claro: Garantir que o histórico de lesões será bem gerenciado.
- Contrato Inteligente: Amarrar o negócio a metas de jogos e performance.
- Narrativa com a Torcida: Uma entrevista de apresentação honesta, com o jogador reconhecendo o ruído da saída anterior e firmando um compromisso esportivo, é inegociável.
Negócio é possível, mas nem tanto
Hoje, há um negócio possível na mesa, mas ele é mais político do que financeiro. Para o Flamengo, o dilema é vender sem fortalecer demais um rival. Para o Atlético, é calcular se o ganho técnico compensa o desgaste político.
Se o Galo realmente quiser Allan de volta, a única via racional é um empréstimo com metas claras e, principalmente, com um plano para fazer as pazes com a arquibancada desde o primeiro dia. Do contrário, a chance de ter um jogador caro, pressionado e vaiado é altíssima.