A história da cachaça ajuda a contar a história do Brasil. A teoria mais aceita sobre a criação da bebida é que ela tenha nascido em Pernambuco ainda por volta de 1530, mas cresceu em grande escala quando o país era um grande produtor de açúcar e começou a trocar escravos com países da costa africana por cachaça. É a primeira bebida alcoólica da América.
Mais tarde os holandeses, que inventaram o gin, foram expulsos do nordeste e levaram para a América Central nossas técnicas de destilaria, criando o que se tornou hoje o run, bebida que também é feita de cana de açúcar.
Mas aí o comércio de açúcar enfraqueceu e descobrimos muito ouro em Minas Gerais. Quando vieram para o estado, traziam suas cachaças em barris de madeira. É por isso que uma cachaça de Paraty geralmente é branca, enquanto quase toda cachaça mineira é envelhecida por causa do aroma e sabor que ganha.
Com a popularidade da bebida cada vez maior, Portugal decidiu aumentar a taxa do produto, o que deixou os mineiros insatisfeitos. A cachaça começou a ser servida nas reuniões dos Inconfidentes, como símbolo da luta contra a Coroa. A bebia não parava de crescer, até mais ou menos 1850, quando o produto forte do Brasil se tornou o café.
Os barões de café paulistas, nova elite do país, queria distância do que era rural. Se identificavam com valores e produtos europeus. O que era nacional passou a ser rejeitado, ruim. E então a cachaça se tornou uma bebida cada vez mais tida como bebida barata, coisa para pobres e pretos.
Só em 1922 durante a Semana de Arte Moderna, Mário de Andrade publicou um estudo chamado ‘Os Eufemismos da Cachaça’ o país começa a olhar de forma diferente para o produto. Eu nasci antes da cachaça ser considerada um produto brasileiro. Só em 1996 o então presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu a cachaça como “produto tipicamente brasileiro”.
A cachaça é a bebida mais antiga de todo o continente americano, que tem produtos como o run, a tequila, bourbon, pisco etc. Não fosse a desvalorização do que é nacional, poderia ser um orgulho nacional como a vodka é para a Rússia, o uísque para a Escócia e a tequila para o México.
A passos lentos o Brasil tenta mudar o cenário. Você já deve ter percebido que encontra vodkas e gins por R$ 25 no mercado, mas só encontra tequila à partir de R$ 100. É porque fizemos um acordo com o México para a valorização cruzada das bebidas. Por Lei, toda tequila vendida no Brasil precisa ser importada e mexicana, enquanto toda cachaça vendida lá precisa ter saído daqui.
No interior de Minas Gerais, em Patos de Minas, está uma das destilarias mais consumidas nos Estados Unidos e na Europa, a Maison Leblon. É aqui que também é produzida a Cuca Fresca, marca que o rapper americano Snoop Dogg se tornou sócio em 2015. “Amo manter boas vibrações e a Cuca Fresca faz isso”, disse ele na época.
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A própria Cuca Fresca tem sido uma das marcas que tem ajudado a espalhar a cachaça pelos EUA. A minha dúvida é: será que vamos esperar ela ser reconhecida lá fora, primeiro que a gente?