“Minas não tem mar”. A frase, repetida à exaustão Brasil afora, é uma verdade geográfica. Mas quem anda pelas ruas de Belo Horizonte em um dia de sol sabe: BH tem praia, sim. Uma praia de asfalto, de grama, de gente. Uma praia que não precisa de ondas, apenas de encontros. Este fenômeno cultural, que hoje define a alma da cidade, tem um marco zero: a “Praia da Estação“.
O que hoje é um símbolo da alegria e da ocupação do espaço público nasceu, na verdade, de um ato de protesto e rebeldia criativa.
O Protesto que Virou Festa
A história começa em 2010. Na época, um decreto da prefeitura proibiu a realização de eventos de qualquer natureza na Praça da Estação, um dos espaços públicos mais importantes e democráticos da capital. A decisão, vista como autoritária e higienista, gerou uma reação imediata e bem-humorada nas redes sociais.
A convocação era simples e irônica: se não pode ter evento, vamos à praia. No dia marcado, milhares de pessoas, vestindo trajes de banho, com cangas, cadeiras de praia e isopores, tomaram a praça. As fontes do local foram transformadas em um “mar” improvisado. O protesto virou uma festa gigantesca, um ato de reapropriação do espaço que entrou para o calendário afetivo da cidade.
O Legado: O Combustível para o Carnaval
A “Praia da Estação” foi mais do que uma festa. Ela foi a semente do que viria a ser a explosão do carnaval de rua de Belo Horizonte nos anos seguintes. O movimento reavivou na população o desejo de ocupar as ruas com música, arte e alegria, de forma espontânea e democrática. Muitos dos blocos que hoje arrastam multidões nasceram inspirados por aquele espírito de 2010.
A “Praia” para Além da Praça
Com o tempo, o conceito de “praia” em BH se expandiu. A “praia” do belo-horizontino é:
- A calçada do bar no bairro de Santa Tereza, que vira arquibancada para ver a vida passar.
- A toalha de piquenique estendida nos gramados do Parque Municipal ou da Praça do Papa.
- O asfalto da Avenida Afonso Pena ou da Savassi, fechado para os carros e aberto para as pessoas aos domingos.
Um Litoral de Alma
A “Praia de BH” é a expressão máxima do espírito mineiro. É a prova da capacidade de criar calor humano, comunidade e alegria a partir das coisas mais simples. Mostra que um “litoral” não precisa ser uma característica geográfica, mas sim um estado de espírito.
É a cultura da hospitalidade e do encontro transformando o concreto em um espaço para a conexão humana. BH não tem mar, mas sua gente transborda. E isso basta.





















