Quando se fala em Queijo Minas Artesanal, um rei parece reinar soberano: o Canastra. Famoso, intenso e premiado, ele virou o grande embaixador de Minas Gerais no mundo. Mas o que poucos sabem é que a nobreza queijeira de Minas tem um primo mais antigo, mais discreto e, para muitos, mais sofisticado: o Queijo do Serro.
Nascido no século XVIII, no auge do ciclo do ouro, ele não é apenas mais um queijo; é o verdadeiro ancestral, o ponto de partida da tradição que hoje define o paladar do estado. A história de como ele surgiu é uma viagem ao coração da mineiridade.
A Origem: A Vila do Ouro e a Serra da Estrela
A receita do Queijo Minas Artesanal desembarcou em terras mineiras nas bagagens dos colonizadores portugueses. As técnicas, inspiradas nos famosos queijos da Serra da Estrela, em Portugal, encontraram na antiga Vila do Príncipe (hoje, a cidade do Serro) um terroir único. O clima, o pasto, o gado local e o “saber fazer” das queijeiras da região adaptaram a receita europeia e deram origem a um produto completamente novo, com identidade própria.
Por ser uma das primeiras regiões povoadas do estado, o Serro se tornou o berço dessa tradição, consolidando-se como o primeiro grande polo queijeiro de Minas.
O Duelo dos Sabores: Serro vs. Canastra
Mas, afinal, qual a diferença entre os dois titãs? Enquanto o Canastra é conhecido pelo sabor forte, picante e pela casca amarela e grossa, o Serro segue um caminho de maior delicadeza.

- Aparência: O Queijo do Serro tem uma massa mais branca, úmida e uma textura mais macia e porosa.
- Sabor: Seu sabor é inconfundível: suave, levemente ácido e com notas lácteas mais presentes.
Essa diferença nasce do processo de produção. A massa do Serro é menos prensada e passa por um tempo de maturação mais curto, o que preserva sua umidade e delicadeza. É o queijo perfeito para o café da manhã, para comer fresco ou para estrelar em um pão de queijo autêntico.
O Reconhecimento: Patrimônio do Brasil
A importância histórica do Queijo do Serro foi reconhecida nacionalmente.
Em 2008, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) tombou o “Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas” na região do Serro (juntamente com Canastra e Salitre) como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O que foi reconhecido não é apenas o produto, mas todo o saber, a cultura e a tradição que envolvem sua produção secular.
Um Sabor que Conta uma História
O Queijo do Serro é mais do que um alimento; é um documento histórico. Cada fatia carrega o sabor do início da colonização de Minas, da adaptação do homem à terra e da genialidade de transformar o simples leite em um tesouro gastronômico.
Se o Canastra ganhou a “guerra do marketing” e se tornou mais famoso, o Serro permanece como o guardião da origem, o sabor autêntico e sofisticado que os verdadeiros amantes de queijo buscam. É a prova de que, em Minas, a história tem sabor.





















