Nas proas das antigas embarcações que navegavam pelo Rio São Francisco, uma figura assustadora e fascinante se destacava: a carranca. Com suas expressões ferozes, dentes afiados e olhos esbugalhados, essas esculturas de madeira eram muito mais que um adorno.
Eram amuletos, guardiãs místicas com a missão de proteger os barqueiros e suas embarcações.
A origem das carrancas é incerta, mas acredita-se que a tradição tenha começado no século XIX. Elas eram esculpidas em uma única peça de madeira e pintadas com cores vibrantes. Sua função era espantar os maus espíritos, as “caboclas d’água” e os perigos que o “Velho Chico” escondia em suas águas. Eram a materialização da fé e da superstição do povo ribeirinho.
O maior e mais famoso mestre carrranqueiro foi Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany, da cidade de Santa Maria da Vitória, na Bahia, mas cuja arte se espalhou por todo o vale do rio, incluindo o norte de Minas Gerais.
Com o declínio da navegação a vapor no São Francisco, as carrancas perderam sua função original e quase desapareceram. No entanto, a força de sua expressão artística as transformou em um dos maiores símbolos do folclore e da arte popular brasileira.
Hoje, elas são peças de museu e itens de colecionador, mas ainda carregam o mistério e as lendas das águas do Velho Chico. Cidades mineiras como Pirapora e Januária são ótimos lugares para encontrar artesãos que mantêm viva a tradição dessa arte única e poderosa.





















