Para ajudar a opinião pública a aceitar a privatização do metrô de Belo Horizonte os interessados conseguiram, e de forma muito bem feita, apesar de frágil, induzir a população e até parte da imprensa a reproduzir o discurso de que a empresa dá prejuízo. Portanto, qualquer que fosse o valor da venda, estaríamos no lucro.
Só que trata-se de uma mentira. Para entender, é preciso saber que o metrô de São Paulo é operado pela CPTM, o do Rio pela SuperVia e o de BH, pela CBTU.
Mas a CBTU também opera o transporte em outras cinco capitais: Natal, Maceió, João Pessoa e Recife. Tudo com um único caixa. Como subsídio, a empresa recebe alguns milhões do Governo Federal, assim como a PBH subsidia os ônibus daqui.
Privatização começou em 2018
O metrô de Belo Horizonte sempre deu lucro. E muito lucro. Muito, mesmo. Tanto que ele basicamente sempre sustentou o das outras capitais.
Em 2018 o governo começou um plano de privatização dos trens da capital mineira. E como quem compra gosta de cobrar passagem cara, era preciso que o governo ficasse com este ônus.
Naquela época a passagem em BH custava R$ 1,80 (e já dava muito lucro). Nas outras capitais custavam R$ 0,50. Para a conta fechar, o lucro excedente daqui cobria o prejuízo de lá.
Naquele ano a passagem teve um reajuste para R$ 3,40 aqui, R$ 3,00 em Recife e R$ 1,00 nas outras capitais operadas pela CBTU. Se a R$ 1,80 já dava tanto lucro que pagava prejuízo de outras cidades, hoje a R$ 4,50 está dando prejuízo? Capaz!
Vendido pela arrecadação de 1 mês
Leiloado na tarde desta quinta-feira, 22, foi um negócio e tanto para quem venceu, por R$ 25,7 milhões. Isto é menos do que o metrô de BH vende em passagens em um único mês.
São cerca de 100 mil passageiros por dia, indo e voltando. Pagando R$ 4,50 por trecho e considerando somente 25 dias úteis, são R$ 900 mil por dia e R$ 22,5 milhões por mês.
Investimentos. Tudo bem que serão investidos R$ 3,8 bilhões no metrô e na nova linha. Pena que R$ 2,8 bilhões virão de graça do Governo Federal e mais R$ 450 milhões do Governo de Minas. Os R$ 600 milhões restantes ficam por conta da vencedora, em até 30 anos. Isso dá R$ 20 milhões por ano. Menos de um mês de passagens vendidas. Parabéns aos envolvidos.
A incoerência do subsídio
O prejuízo que justificaria a venda na verdade se chama subsídio. Como as pessoas que concordam em cortar tal subsídio do metrô poderão concordar com a manutenção do subsídio das empresas de ônibus da capital no ano que vem? A conta não fecha.