Câmara de BH pode criar frente parlamentar da enfermagem

Foto: Tatiana Francisca - CMBH

A valorização da enfermagem voltou ao centro do debate em Belo Horizonte. Durante um seminário realizado nesta segunda-feira (19/5) na Câmara Municipal, o vereador Edmar Branco (PCdoB) anunciou que vai mobilizar os parlamentares da Casa para a criação de uma frente parlamentar dedicada exclusivamente aos profissionais de enfermagem — incluindo técnicos e auxiliares.

A proposta nasce em um momento de intensas discussões sobre o funcionamento da atenção primária do SUS-BH e a precarização das condições de trabalho de quem está na linha de frente da saúde pública.

O seminário, realizado pela Comissão de Saúde e Saneamento, teve como foco os desafios vivenciados na atenção primária — o primeiro e mais importante ponto de contato entre a população e o Sistema Único de Saúde.

Com centros de saúde frequentemente lotados e equipes sobrecarregadas, a realidade relatada por profissionais aponta para uma urgência: é preciso reconhecer e estruturar melhor o trabalho da enfermagem, base fundamental do atendimento cotidiano à população.

“Cuidar de quem cuida”

Edmar Branco foi direto ao ponto ao afirmar que a criação da frente é uma forma de “cuidar de quem cuida da saúde de Belo Horizonte”. Segundo ele, a formalização da proposta está prevista até 10 de junho. A medida é simbólica, mas também prática: cria um espaço institucional permanente para que as demandas dos profissionais possam ser discutidas dentro do Poder Legislativo com mais visibilidade e força política.

A técnica de enfermagem Érika de Oliveira Santos, que atua em unidades de urgência e emergência, destacou a importância da iniciativa: “Uma frente parlamentar para termos um espaço onde a gente constrói as nossas demandas. Estamos de novo reescrevendo a história da enfermagem”, declarou.

O SUS que a teoria não alcança

Os depoimentos apresentados no seminário revelam o abismo entre os protocolos ideais e a realidade do dia a dia nos centros de saúde. A enfermeira Cibele Faria, do Centro de Saúde Vila Maria – João Vital, comparou o volume de pacientes atendidos por dia a “um Mineirão cheio e mais dois terços”. Ou seja, milhares de pessoas em busca de atendimento, com equipes reduzidas, infraestrutura limitada e grande pressão por resultados.

Já a enfermeira especialista Mislene Persilva alertou para um problema pouco discutido: a viabilidade do tratamento em contextos de vulnerabilidade social. Segundo ela, não adianta oferecer o melhor curativo se o paciente não tem condições mínimas de continuar o tratamento em casa. “É preciso olhar para além do procedimento”, disse.

Representatividade e ação concreta

A proposta da frente parlamentar da enfermagem vai além da retórica. Trata-se de uma tentativa de colocar a categoria no centro das decisões sobre políticas públicas de saúde. Em um momento em que os profissionais ainda lutam pela efetivação do piso salarial da enfermagem e por melhores condições de trabalho, essa é uma sinalização política importante.

Se realmente criada e conduzida com seriedade, a frente poderá ser um ponto de virada na luta por uma saúde pública mais justa e funcional — para profissionais e usuários. Afinal, quando quem cuida é cuidado, toda a sociedade ganha.