Crise na Unimed Montes Claros: como a expansão para o DF levou à insolvência

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A grave crise que assola a Unimed Norte de Minas não é um mero acidente financeiro; é o resultado direto de decisões de governança que parecem ter ignorado a própria razão de ser de uma cooperativa de saúde: o mercado local.

O que se vê em Montes Claros é a consequência de uma aposta arriscada, onde a diretoria optou por buscar volume fora de sua área de atuação, negligenciando os impactos que isso traria para a sustentabilidade da operação e para os próprios médicos cooperados.

O epicentro da crise no Distrito Federal

O epicentro do problema reside na relação com a administradora SERVIX. A permissão para que esta comercializasse planos no Distrito Federal, inflando a carteira da Unimed Montes Claros em mais de 30 mil clientes, foi uma manobra que, embora registrada em ata, se revela hoje como “temerária”.

Essa expansão criou um monstro financeiro: a sinistralidade (o custo dos serviços médicos em relação ao que foi arrecadado) disparou. A operadora assumiu um risco assistencial de um público que não estava em sua área de cobertura, gerando um desequilíbrio estrutural. Na prática, a Unimed Montes Claros importou o prejuízo, sem trazer qualquer benefício real para o mercado de saúde do Norte de Minas.

A solução da ANS: ‘alienação’ como proteção

Agora, a cooperativa enfrenta a insolvência. É neste ponto que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) entra em cena, e a “alienação compulsória da carteira”, um termo que assusta, surge ironicamente como a única solução viável. É preciso entender o que essa medida significa: ela não é o fim da Unimed na região, mas sim uma reestruturação forçada para salvar o sistema.

A alienação compulsória é, essencialmente, um mecanismo de proteção. Primeiro, ela protege os beneficiários, que não ficam desassistidos, pois suas carteiras de planos são transferidas para uma operadora mais sólida. Segundo, e talvez o ponto mais crucial para a economia local, ela “salva” os médicos cooperados. Eles deixam de ser donos de uma empresa insolvente — livrando-se do ônus do risco financeiro e das dívidas — e passam a atuar “apenas” como prestadores de serviço para a nova gestão. O modelo preserva empregos e a renda médica local.