É um cenário que se repete no Allianz Parque: o adversário recua as linhas, estaciona o ônibus na frente da área e desafia o Palmeiras a encontrar um caminho para o gol. Para muitos times, isso é uma sentença de frustração. Para o time de Abel Ferreira, no entanto, é apenas um convite para ativar seu arsenal tático. O Verdão possui, hoje, pelo menos quatro rotas de gol bem definidas para desmontar os ferrolhos mais complexos.
A estratégia não se baseia em um único jogador, mas em um sistema de movimentos coordenados, explorando os pontos fracos que toda “linha baixa” eventualmente cede.
Rota 1: Vitor Roque Atacando o Primeiro Pau (A “Jogada de Facão”)

Esta é, talvez, a arma mais letal do Palmeiras em 2025. A jogada é desenhada para explorar a agressividade do camisa 9. O time força a jogada pelo lado (geralmente o esquerdo) e, quando a defesa adversária recua para proteger a pequena área, o cruzamento vem tenso e rasteiro na direção do primeiro pau.
Vitor Roque ataca esse espaço “cego” com uma arrancada curta, antecipando-se ao zagueiro para finalizar de primeira. A velocidade da jogada reduz drasticamente o tempo de reação do goleiro e do defensor. É a principal arma para transformar volume em gol contra defesas estáticas.
Rota 2: O Volume e a Variação de Piquerez

Se Roque é o finalizador, Joaquín Piquerez é o garçom. O lateral-esquerdo é um vetor constante de ataque. Contra times fechados, ele não se limita a um único tipo de cruzamento; ele varia o cardápio:
- Cruzamento Tenso: Buscando o “facão” de Vitor Roque (Rota 1).
- Bola “Meia-Altura”: Procurando o desvio ou a “casquinha” para a segunda trave.
- “Cutback” (Passe para Trás): Quando a defesa afunda demais, ele rola para a chegada dos meias na entrada da área (Rota 3).
Esse volume e essa imprevisibilidade desgastam a defesa adversária, que nunca sabe qual será o próximo movimento.
Rota 3: O “Cutback” para o Meia (A Finalização Limpa)
Quando o adversário coloca muitos jogadores dentro da pequena área para bloquear Vitor Roque e Flaco López, o Palmeiras ativa o “cutback”. O ponta (ou Piquerez) chega à linha de fundo e, em vez de cruzar para a confusão, rola a bola para trás, na “Zona 14” (a meia-lua). Jogadores como Felipe Anderson ou Estêvão chegam de frente, com o gol aberto e o pé calibrado para a finalização limpa, de média distância, pegando a defesa no contrapé.
Rota 4: A Bola Parada Aérea (O Fator Gómez)

Se nada disso funcionar, o Verdão tem o “atalho” mais eficiente do futebol: a bola parada. Em jogos travados, cada escanteio ou falta lateral é tratado como uma chance real de gol. Com cobradores de elite e a presença dominante de Gustavo Gómez e outros zagueiros na área, o Palmeiras explora o jogo aéreo para decidir partidas. A variação entre batidas fechadas no primeiro pau e bolas mais abertas no segundo mantém a defesa rival em alerta constante.
Análise: Um Arsenal Completo
A força do Palmeiras de Abel Ferreira contra linhas baixas não está em uma única jogada, mas na capacidade de alternar entre elas. O time tem paciência para rodar a bola com Piquerez, agressividade para definir com Vitor Roque, inteligência para encontrar o chute de Felipe Anderson no “cutback” e a força bruta da bola parada de Gómez.
O risco é se tornar um time previsível, apostando apenas nos cruzamentos pelo hábito. Mas, ao alternar essas quatro rotas, o Verdão mantém o controle e a imprevisibilidade, transformando o “ferrolho” adversário apenas em uma questão de tempo até que um dos seus caminhos encontre a rede.