O Vereador Irlan Melo (Republicanos) protocolou na Câmara Municipal de Belo Horizonte o Projeto de Lei 554/2025, que visa denominar a Rua A4, no Bairro Betânia, como Rua Cleriston Pereira da Cunha. O projeto é uma homenagem póstuma e um ato de reconhecimento à memória de um cidadão cuja história se tornou emblemática nos debates recentes sobre liberdade e democracia no país.
Neste artigo, analiso o significado político e social dessa homenagem, o contexto da trajetória de “Clezão” e como essa iniciativa se conecta ao sentimento de milhares de brasileiros que ainda buscam respostas.
Quem foi Cleriston Pereira da Cunha, o Clezão
Cleriston Pereira da Cunha era baiano, empresário, pai de família e um homem comum, descrito por quem conviveu com ele como pacífico, trabalhador e dedicado aos seus. Natural do interior da Bahia e radicado no Distrito Federal, Clezão levava uma vida simples, motivada pela fé, pelos filhos e pelo desejo de sustentar o lar.
Em 8 de janeiro de 2023, esteve em Brasília para participar de manifestações que, pelas suas próprias palavras, acreditava serem em defesa da democracia e da liberdade. Independente das interpretações e das paixões políticas que envolvem aquele dia, Clezão tinha ali, um propósito pacífico.
A prisão, o abandono médico e a morte
Após os acontecimentos, Clezão foi detido e levado ao Complexo Penitenciário da Papuda. O que deveria ser um processo judicial tornou-se, segundo seus familiares, um drama marcado por falta de assistência e possível negligência.
Ele sofria de doenças graves:
- vasculite de múltiplos vasos,
- miosite pós-Covid,
- diabetes,
- hipertensão.
Dependia de medicamentos contínuos e relatos indicam que o acesso a esse tratamento não teria sido devidamente assegurado.
Em 20 de novembro de 2023, aos 46 anos, Cleriston morreu durante o banho de sol, deixando esposa, filhos e uma série de perguntas sem respostas. Seu caso se tornou um ícone das denúncias de violações de direitos e de falta de proporcionalidade no tratamento dado a manifestantes comuns. Clezão tinha um parecer favorável à soltura desde setembro da PGR, mas o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, não analisou o pedido.
O que diz o Projeto de Lei 554/2025
Ao apresentar a proposta, o vereador Irlan Melo afirmou:
“Dar o nome de Cleriston Pereira da Cunha a uma via pública é mais do que uma homenagem individual: é um ato de reconhecimento àqueles que acreditam na importância da liberdade e que pagaram um preço alto por expressarem suas convicções.”
O projeto, além de homenagear Clezão, levanta um debate incômodo, porém necessário:
o que aconteceu com ele não pode ser esquecido.
Por que essa homenagem importa para Belo Horizonte e para o Brasil
Vivemos tempos de forte polarização, mas também de crescente questionamento sobre os limites da atuação do Estado, das prisões preventivas alongadas e da proteção de direitos fundamentais. Casos como o de Clezão não dizem respeito apenas aos envolvidos: dizem respeito ao que permitimos que aconteça em nosso país.
A homenagem proposta por Irlan Melo não é sobre política partidária.
É sobre uma memória que precisa ser preservada para que injustiças não se repitam.
Liberdade e memória: um chamado à reflexão
Quando uma cidade escolhe dar o nome de uma rua a alguém, ela está comunicando algo às próximas gerações. No caso de Cleriston Pereira da Cunha, Belo Horizonte pode estar enviando a mensagem de que vidas não devem ser esmagadas pelo sistema, e que o STF precisa voltar a se atentar à Constituição.
O PL agora segue para análise dos demais vereadores.























