O conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, é sinônimo de inovação e elegância. Entre suas obras-primas, destaca-se o edifício que hoje abriga o Museu de Arte da Pampulha (MAP). Projetado por Oscar Niemeyer em 1942, com paisagismo de Burle Marx, o prédio originalmente foi o exuberante Cassino da Pampulha, atraindo multidões e diversão sofisticada pouco antes da proibição do jogo no país. Conheça o passado glamouroso do cassino, seu presente como espaço cultural e o futuro incerto do jogo físico no Brasil.
O Cassino da Pampulha: brilho e festa nos anos 40
Idealizado por Juscelino Kubitschek, então prefeito, o cassino foi o primeiro edifício do conjunto moderno da Pampulha e inaugurado em 1943. Com pilotis, vastas janelas de vidro e rampas modernas, a estrutura refletia diretamente a influência de Le Corbusier.
Sob a gestão de Joaquim Rolla, o local não oferecia apenas jogos de azar; eram realizados bailes, shows internacionais e jantares que transformaram BH num polo cultural vibrante . O cineasta David Machado lembra que o cassino impressionava com “um palco móvel que subia com a banda já tocando” .
Mas essa era de glamour foi breve. Em 30 de abril de 1946, o presidente Dutra proibiu jogos de azar em todo o território nacional, forçando o fechamento do cassino.
De Palácio de Cristal a Museu de Arte
Após quase uma década fechado, o prédio renasceu em 1957 como o Museu de Arte da Pampulha – inicialmente apelidado de “Palácio de Cristal”, em referência às grandes fachadas de vidro.
Desde então, o MAP tem cumprido sua missão de apresentar ao público exposições que dialogam com a arquitetura e paisagismo da Pampulha. Com cerca de 1.400 obras, o acervo inclui nomes como Guignard, Di Cavalcanti, Tomie Ohtake e Portinari. O auditório de 170 lugares, biblioteca, jardim com esculturas e salas de multimídia (desde 1996) são destaques do espaço.
O MAP já foi reconhecido como Patrimônio Histórico em três esferas – municipal (2003), estadual (1984) e federal (1997) – e, junto ao restante do conjunto, tornou-se Patrimônio Mundial da UNESCO em 2016.
No momento, o museu está fechado para restauro, com visitação retomada apenas de forma virtual, nos jardins ou em espaços parceiros da Prefeitura.
Arquitetura, arte e paisagismo em diálogo
O prédio do cassino/museu é um marco do modernismo brasileiro. Oscar Niemeyer incorporou pilares de concreto (pilotis), fachadas livres e rampas sinuosas, ligando o térreo ao salão principal – uma estrutura arquitetônica totalmente inovadora para BH em seu tempo.
Já Burle Marx desenhou jardins que dialogam com as esculturas de Zamoyski, Ceschiatti e José Pedrosa, criando uma fusão entre natureza, arte e arquitetura.
O impacto cultural foi imediato. O Conjunto da Pampulha influenciou a estética de construções em toda Belo Horizonte, espalhando uma linguagem modernista promovida pela visão de Kubitschek e Niemeyer.
O museu hoje: arte contemporânea e educação
O MAP vai além da arquitetura: acolhe residências artísticas, ações educativas e exposições inovadoras. Programa Bolsa Pampulha, criado em 2003, já revelou nomes como Paulo Nazareth e Cinthia Marcelle, reconhecidos no circuito nacional e internacional.
A curadoria atual aposta em arte contemporânea que dialoga com o patrimônio histórico, fazendo do museu um palco rico de reflexões visuais, sensoriais e simbólicas .
Cassinos físicos no Brasil: discussões e possibilidades
Apesar de o MAP ter surgido como cassino, os jogos físicos foram banidos no Brasil em 1946 – e seguem proibidos até hoje. Só os cassinos online são permitidos, e os autorizados pelo governo estão listados em sites como o Casino.com, que avalia critérios de segurança, licenciamento e transparência.
A proposta de legalizar cassinos físicos e retornar esse entretenimento às cidades brasileiras inclui Belo Horizonte na discussão: muitos defendem que complexos turísticos poderiam surgir, inclusive na Pampulha. No entanto, critérios de regulamentação, controle social e proteção ao público ainda precisam ser debatidos exaustivamente.
Enquanto isso, o capítulo presencial do jogo permanece arquivado entre as memórias do majestoso Cassino da Pampulha.
Perspectivas para o futuro do Museu de Arte da Pampulha
Com a restauração do MAP em curso, BH reafirma seu compromisso com a preservação cultural. No entanto, a discussão sobre legalização de cassinos físicos permanece acesa – com defensores apontando benefícios econômicos e críticos ressaltando riscos sociais.
Caso a legislação avance, a Pampulha seria um palco histórico para reviver o espírito do cassino com espírito turístico, infraestrutura cultural e integração arquitetônica. Um renascimento que combinaria passado e futuro.
O edifício do MAP, que nasceu cassino e se transformou em museu, representa a força transformadora da arte, arquitetura e cultura. Sua história reflete decisões políticas, visões urbanísticas e sonhos modernos. Hoje, mesmo com portas temporariamente fechadas para visitas, ele permanece vivo no imaginário coletivo de BH.
Ainda que o Brasil permita apenas cassinos online, a hipótese de reinserir os físicos – especialmente em locais emblemáticos como a Pampulha – continua a alimentar debates sobre identidade, memória e futuro urbano. Enquanto isso, o Palácio de Cristal segue brilhando como um ícone do modernismo e da valorização cultural.























