Na mesma semana em que órgãos internacionais e veículos de imprensa norte-americanos voltaram a criticar a possibilidade de prisão de Jair Bolsonaro sob o pretexto de “violações aos direitos humanos” e “ameaças à democracia”, veio à tona uma imagem perturbadora — e reveladora: imigrantes detidos nos Estados Unidos sendo forçados a comer ajoelhados, como animais, do lado de fora das celas, sem mesas, pratos ou qualquer resquício de dignidade.
Os relatos registrados em um centro de detenção no Texas expõem uma realidade há muito conhecida mas raramente enfrentada: o país que mais se autoproclama guardião das liberdades civis é, ao mesmo tempo, o que mais desumaniza pessoas que ousam atravessar suas fronteiras em busca de refúgio ou sobrevivência.
A pergunta que fica é simples, direta — e incômoda: com que autoridade moral os Estados Unidos julgam outros países?
Prisão de Bolsonaro também pode ser contestada
Enquanto a máquina judicial brasileira avança contra Bolsonaro — num processo ainda nebuloso, recheado de interpretações jurídicas, presunções e disputas políticas —, a mídia progressista americana, ONGs internacionais e governos europeus aplaudem, como se estivessem diante de uma lição de civilização. O problema é que, ao mesmo tempo, evitam olhar para o próprio quintal.
Prender alguém preventivamente por “intenção golpista” ainda sem sentença transitada em julgado é, no mínimo, questionável. E quando isso parte de uma Suprema Corte que frequentemente ultrapassa os limites da neutralidade institucional, é legítimo discutir se há mesmo justiça — ou apenas revanche.
Mas o que dizer então de manter pessoas presas por semanas, sem acesso a banho, sendo obrigadas a comer no chão, ajoelhadas, como cães, simplesmente por cruzarem uma linha imaginária no mapa? O que é mais grave? Qual situação fere mais os tais “direitos humanos”?
A seletividade é gritante. Os mesmos analistas que se escandalizam com uma carreata em Brasília ou com discursos inflamados em comícios eleitorais fecham os olhos para as jaulas de metal nas fronteiras dos EUA. Ou, pior, fingem que não veem.
A desumanização que não choca mais
O mais triste é que não se trata de um caso isolado. O tratamento desumano dado a imigrantes ilegais nos Estados Unidos já foi denunciado pela ONU, por entidades como Human Rights Watch e por veículos independentes há anos. Famílias separadas, crianças em abrigos frios, pessoas dormindo no chão — tudo documentado.
Mas, como os Estados Unidos são os “mocinhos” da narrativa ocidental, a repercussão é branda, quase burocrática. Basta uma nota de repúdio aqui, um discurso protocolar acolá, e tudo volta ao normal. Nenhum tribunal internacional se mobiliza. Nenhum “especialista em democracia” pede o indiciamento de presidentes ou secretários americanos por tortura psicológica ou cárcere indigno.
Conclusão: coerência também é um direito humano
Se o mundo quer defender direitos humanos, que o faça com coerência. Se quer julgar governantes, que olhe para todos os lados — inclusive para Washington. E se quer usar a justiça como exemplo, que comece por garantir que ninguém, em nenhum lugar, seja tratado pior do que um animal por cruzar uma fronteira em desespero.
Porque, no fim das contas, a única coisa mais perigosa do que o autoritarismo é o autoritarismo seletivo — aquele que se esconde atrás de bandeiras bonitas enquanto pisa em pessoas de verdade.























