O brasileiro cansou do “isentão” e quer um líder com lado
Tenho observado e sentido na pele um fenômeno que vai muito além da política: o povo quer alguém que brigue por ele. Não adianta mais discurso bonito, powerpoint de propostas ou tentativa de agradar os dois lados. O eleitor de hoje quer alguém que tenha um lado, que não tenha medo de se posicionar, mesmo que isso custe críticas ou rejeição.
E isso não é só uma percepção minha. É o que apontam pesquisas recentes, como a publicada pelo instituto Glocalitiesem 2024, com base em mais de 300 mil entrevistas em 20 países. O levantamento mostra que jovens de 16 a 24 anos estão cada vez mais inclinados a valores conservadores, buscando ordem, clareza e pertencimento. Em tempos de crise econômica, polarização e medo, líderes que transmitem segurança, mesmo de forma agressiva, se tornam mais atraentes.
Neutralidade virou sinônimo de fraqueza e omissão
A Teoria da Identidade Social, formulada por Henri Tajfel e John Turner, ajuda a explicar esse comportamento. As pessoas buscam pertencimento. E, quando veem um candidato combativo, enxergam alguém que defende seu grupo, sua “tribo”. Já o político “isentão” passa a imagem de quem não tem coragem de escolher um lado, ou pior: que é cúmplice do sistema que oprime.
Essa desconfiança nas instituições não vem do nada. Segundo o Edelman Trust Barometer 2023, apenas 37% dos jovens brasileiros confiam em políticos, e mais de 60% acreditam que a sociedade está fora de controle. O candidato que “fala a verdade”, ainda que de forma crua, ganha pontos por parecer autêntico, diferente dos velhos políticos que “falam bonito”, mas não dizem nada.
O algoritmo escolheu os radicais e o eleitor foi junto
O problema se aprofunda com o impacto das redes sociais. Os algoritmos de Instagram, X e TikTok recompensam engajamento, e isso significa polarização, emoção, confronto. O candidato que busca consenso não viraliza. Já aquele que escolhe um inimigo e “parte pra cima” é recompensado com alcance e influência. Como afirma o livro “The Revolt of The Public”, de Martin Gurri, as redes quebraram o monopólio da mídia tradicional e abriram espaço para uma nova geração de políticos que crescem na base do confronto.
A estrutura populista do “nós contra eles” também tem seu apelo. Como aponta o cientista político Cas Mudde, o populismo se fortalece quando há descrença nas elites e um apelo emocional direto ao povo, ignorando os intermediários e atacando os pilares da institucionalidade. E é aí que a autenticidade se torna mais importante que qualquer plano de governo.
Posicionamento gera respeito e voto
O eleitor não quer mais um “gestor competente” com fala mansa. Quer alguém que encarne sua indignação. Quer um líder que lute por ele. E como escrevi em outro texto, “posicionamento gera respeito”. Neutralidade, hoje, gera desconfiança. E respeito, em tempos de medo, é o novo capital político.
A política virou identidade. E quem não tem lado, perde o respeito e o voto. É duro dizer isso? Talvez. Mas é a realidade. E como comunicador, cristão e cidadão, prefiro lidar com a verdade a viver no autoengano de uma falsa neutralidade.























