Prestes a completar 60 dias no comando de Belo Horizonte, Álvaro Damião ainda busca se consolidar como líder de fato — e não apenas como sucessor ocasional de Fuad Noman, de quem herdou a cadeira após o afastamento por motivos de saúde e decisão política.
Damião, que fez carreira como comunicador popular, tem apostado em uma gestão de alto contato com a população e discursos acessíveis. Porém, quem observa os bastidores com olhos treinados sabe que há mais em jogo do que selfies em feiras e postagens bem-humoradas nas redes sociais.
A pergunta que ronda a política belo-horizontina é clara: Álvaro Damião quer ser protagonista ou apenas coadjuvante de uma transição pactuada entre grupos que tentam manter o controle da cidade?
Álvaro Damião: continuidade com retoques pessoais
No campo administrativo, sua gestão tem mantido a linha dos antecessores Kalil e Fuad: foco em zeladoria urbana, investimentos na saúde básica e alguma agilidade em obras de mobilidade da PBH. Até aqui, não há grandes rupturas. É uma escolha segura — e esperada para quem entra no cargo sem ter passado pelo crivo das urnas.
Damião, no entanto, tenta imprimir seu estilo. Tem sido mais presente nas regiões periféricas, mais dado a interações diretas e menos afeito à tecnocracia. Se Kalil governava com punhos firmes e pouca diplomacia, e Fuad era o tecnocrata de fala mansa, Álvaro tenta se apresentar como o “prefeito do povo” — mas ainda sem o respaldo político que isso exige.
Resistências no tabuleiro
É nesse ponto que mora seu principal desafio. No jogo de xadrez que é a política municipal, Damião ainda precisa conquistar respeito institucional. A Câmara Municipal observa com cautela seus movimentos, e há, nos bastidores, quem ainda o trate como um interino.
Lideranças de centro-direita veem com simpatia seu perfil mais popular, mas cobram posicionamento mais claro frente a temas delicados — como segurança pública, regulação urbana e relação com o funcionalismo.
A administração, por ora, parece preferir evitar embates. O risco é que essa prudência seja lida como hesitação. Em um ano eleitoral, isso pode custar caro.
Álvaro Damião não é despreparado, mas também não pode se apoiar apenas na simpatia popular. A política exige mais do que presença; exige pulso. Se quiser se consolidar como uma liderança real — e não apenas como um gestor circunstancial —, terá de sair da zona de conforto e enfrentar o jogo como ele é: com articulação, posicionamento e coragem para contrariar interesses quando necessário.























