Londres é uma cidade em que muita gente não se contenta em apenas ir, conhecer e voltar. Muitos querem se mudar e viver no país. E se o preço a pagar for a ilegalidade, que seja.
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Durante seis meses estudando inglês e vivendo na cidade, conheci diversos brasileiros que também vivem lá e muitos deles, de forma ilegal. Veja abaixo o que Gabriel, Vitor e Luisa* me contaram sobre como é viver ilegal. Ambos são belo-horizontinos.
Ao contrários dos Estados Unidos, por exemplo, não é possível entrar no Reino Unido sem fazer uma imigração aeroportuária. Apesar de o visto não ser exigido para brasileiros, é preciso comprovar passagem de volta, dinheiro pra viagem e hospedagem.
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Nesta hora, quem tem a intenção de viver ilegalmente no país precisa mentir. “O negócio é você não chegar com um mundo de roupas e bagagens. Se você quiser entrar de boa precisa fingir e acreditar que é turista”, conta Gabriel, que tem 24 anos e vive há 2 na capital da Inglaterra.
Luisa, de 28 anos e há 5 no Reino Unido, parece concordar: “Sempre tem os casos de gente vacilona que acaba ficando nervosa e é pega na mentira. Aí é mandado de volta e perde dinheiro de passagem e tudo. Pra passar na imigração tem que ter calma e jurar de pé junto que é turista e vai só passar férias”
Todos eles concordaram que os primeiros dias na cidade são os mais difíceis. Vitor, de 22 acaba de chegar com um primo e ambos sem saber falar inglês, anda não sabem o que vão fazer. “Nos primeiros dias a gente começou a sair pela cidade pra conhecer, mas depois da primeira semana já começa a bater o desespero por ficarmos sem perspectiva e com medo do dinheiro acabar”, disse ele.
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“Eu já cheguei aqui sabendo que ia fazer programa pra viver. Já tinha feito alguns em BH e quando uma amiga veio pra cá pra fazer isso decidi vir também. Nos primeiros dias foi ela que me hospedou, mas agora tenho casa alugada”, conta Luisa.]
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“Pra mim nunca faltou trabalho. O negócio é que eu sempre estive disposto a encarar de tudo. Aqui o que mais tem é vaga pra quem quer trabalhar ilegal, mas nem sempre vão ser boas vagas”, diz Guilherme, que atualmente trabalha como jardineiro.
Apesar de não ter um emprego tradicional, Luisa, conhece bem como funciona: “Aqui é diferente do Brasil. Você ganha o seu salário trabalhando por hora e você se vira pra pagar transporte e pode ter até 30% do salário descontado como imposto. Um amigo meu recebe 1200 libras, mas tiram 250 do de imposto”.
Se por um lado a qualidade de vida e o bom salário são atrativos, viver ilegal é um peso a ser carregado.
“Todo dia eu fico morrendo de medo de ser encontrado por um fiscal e ser deportado. Várias vezes fiquei na desvantagem porque não podia chamar a polícia pra que não descobrissem que eu era ilegal”, diz Guilherme.
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Pra Luisa, a falta de estabilidade é o que mais pesa: “Sabe a droga que é você ter dinheiro pra comprar uma casa e não poder? Você não poder comprar as coisas mais caras que você quer porque sabe que se for deportado vai perder tudo? Pois é, são essas coisas que fazem tudo acabar não valendo à pena”.
Todos eles concordam em um fato: a vida em Londres é melhor do que no Brasil.
Para Guilherme, as facilidades da cidade são um ponto alto: “Isso aqui é coisa de outro mundo. Ônibus que funcionam 24 horas por dia, lojas abertas o tempo todo, isso é coisa que você pensa que não precisa até você ter. É aquilo de sair a hora que você quiser sem pensar se vai ter como voltar pra casa”.
“Você precisa de uns 7 meses de salário mínimo pra comprar um iPhone no Brasil. Aqui você trabalha uma semana e meia ou duas e vai na loja comprar o seu. É um sentimento que a gente é feito de trouxa no Brasil o tempo todo. Até se eu quiser comprar uma passagem de avião entre BH e Rio de Janeiro, comprando no mesmo site, fica até três vezes mais barato comprando daqui”, afirma Luisa.
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“Eu cheguei à pouco tempo, mas se pudesse ficava aqui pra sempre”, resume Vitor. Já Guilherme e Luisa tem uma opinião um pouco diferente:
“A cidade é maravilhosa e um sonho, mas pra sempre só se tivesse documentos pra viver legalmente. Mas pra isso só vou conseguir arrumando uma estrangeira pra casar”, afirma Guilherme.
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Já pra Luisa, os britânicos nunca serão iguais aos brasileiros: “Nós damos de 10 a 0 em qualquer estrangeiro. Somos muito mais alegres, versáteis, amigos. O nosso único problema é que a gente não sabe escolher político. Meu sonho é voltar pro Brasil, mas queria que fosso um pouquinho mais organizado”.
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*Apenas o primeiro nome foi usado a pedido dos entrevistados para garantir privacidade.
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